Filme Labirinto do Tempo e o eterno retorno

Filme Labirinto do Tempo e o eterno retorno


“Não espere pelo Julgamento Final. Ele acontece todos os dias” (Albert Camus). Assim começa esse filme, que foi além do esperado, com um roteiro envolvente e fatos inesperados, bem como uma demonstração de criatividade. Três jovens assim estão em uma espécie de reformatório ou prisão para menores, dois rapazes e uma moça adolescente, de modo que os mesmos estavam ali por traficar drogas e se envolver em encrencas. Para tanto, em meio a rotina de frustrações e desavenças familiares, abandono e total ceticismo, acontece algo extraordinário: levam um choque misterioso via corrente elétrica, e os dias começam a se repetir, um dia que não muda. Todos os acontecimentos, ipsis literis, fato a fato, se repetem. A hora de acordar, o bullyng de um colega de instituição, a moça sentada na mesa de refeitório. De longe me anunciou a doutrina de eterno retorno, dos gregos antigos e depois usada por Friedrich Nietzsche.

Os dramas são os seguintes: a moça deseja ver o pai antes que esse faleça, pois sabe que ele irá morrer a cada dia que se repete, que se trata do dia do óbito. Outro rapaz tenta fazer pazes com irmã, e outro tenta com o pai, que está em penitenciária, o odiando. Já Nietzsche fez a reflexão de ele ser um demônio e cada dia se repetir, todas as coisas, e todas sem exceção. Lembra algo também de doutrina de metempsicose, e se não me engano alguns gnósticos tem a doutrina de se reviver dramas nesse mundo. Mas no filme de princípio os três têm boas intenções ao saber o que vai acontecer durante esse dia, como ajudar uma menina que vai se suicidar, e tentar alterar acontecimentos para melhorar. Mas depois assaltam loja de bebidas, agridem um traficante, um deles comete crimes, até ameaçam se matar entre eles, os três viajantes do tempo. Mesmo a moça irá até cair de barragem de hidrelétrica para provar que não morre, que no dia seguinte tudo se repete, pois o dia se trata do mesmo.

O título do filme já leva a ideia de repetidores, então fica já clara a intenção. Também que o julgamento final sempre vem, uma vez que a justiça divina ou cósmica independe de nossa vâ consciência humana em atual estágio evolutivo de noogênese. Mas o final é surpreendente e até desejamos que justiça seja feita, e que esses três jovens não aprontem mais, sabendo que o dia seguinte sempre é o mesmo, sem consequência. Aqui também se vê uma quebra da lei da causalidade e do karma, coisa que também não basta se inventar. Por fim a lei fatal opera, e o mais levado acaba por ter a justiça que merece. Por isso da metempsicose ser doutrina boa, porque há sempre a justiça nas vidas que se repetem. Não está ainda pronto o homem para o Juízo Final, menos ainda para a ressurreição. Mas já pensei, como Camus, que esse ocorre todos os dias, e deixar para último momento pode ser por demais severo.

No mais o filme exercita a memória e percebemos as coisas que podem ser mudadas e se repetem. Também esperamos qual será a proeza que os protagonistas farão no dia seguinte, sabendo que tudo se repete. Não há assim lei, nem morte, nem consequência – tudo se repete. Uma doutrina do caos também se pode ser observada, e isso está muito em moda. Não há ordem, todas as coisas estão ao acaso e tudo é permitido. Sorte o fim do filme não defender a tese até o fim, e assim vemos a justiça do Cósmico operar, mesmo com esse lapso de livre arbítrio que foi dado pela repetição da vida.



Comentários

  1. Gostei do conteúdo postado, meu nobre pensador. Pois a lei do retorno alberga diferentes prazos de validade. Minha ação pode retornar instantaneamente para mim, como no caso do atirador que puxa o gatilho e o tiro sai pela culatra, ou pode repercutir dentro de nove meses, ou o que fiz na juventude pode me prejudicar na velhice. E, perdoe-me Camus, ainda que paguemos pelos nossos atos aqui mesmo, não há como fugir do Juízo Final. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

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