Filme “Bem me quer mal me quer” e a presunção de inocência
Filme
“Bem me quer mal me quer” e a presunção de inocência
Em
“Bem me quer mal me quer” - À la Folie... Pas du Tout , francês,
estrelado pela linda Audrey Tautou, da direção de Laetitia
Colombani, a qual já fez produções emblemáticas, e ainda o
recente filme do Código da Vinci, me parecia a primeira vista mais
uma comédia romântica, do estilo daquelas que vemos outras em
grande número, mas quando vi era um grande questionamento de moral e
de ideias pré-determinadas. Nos mostra até onde o nosso próprio
mundo pode ser uma lente ao mundo fenomênico. A nossa idiossincrasia
assim influi muito. O filme de início parecia um discurso feminista,
mas aos poucos a coisa foi se invertendo. Derruba padrões.
Quando
vemos novelas, percebemos aquela velha história, de homens infiéis,
malandros e curtindo a vida com amantes. Ou vemos uma mulher
histérica condenando tudo e projetando suas crises de relacionamento
em modo a culpar os outros, ou mesmo em julgar o mundo de perdido ou
simplesmente o colocando de lado, frente aos valores, ditos líquidos
por sociólogo Zigmunt Bauman. Fato é que nem sempre os padrões
cabem e são tão óbvios. Vemos em muitas condenações e
julgamentos a falta de devida prova, e condenações antes de se ter
a mínima prova. Aquele que pratica um ato criminoso só pode ser
condenado com a prova, e mesmo com a certeza de sua autoria. Também
o louco ou alguém com transtorno é inocente, ou o que a lei chama
de inimputável.
O
filme se divide em duas partes, que quase se repetem, não fosse a
inversão de ponto de vista. Mudar de sujeito para objeto, ou de
sujeito para sujeito, altera muito a cognoscibilidade. Vemos que
condenamos as pessoas com base em pré-conceitos indeterminados, e
usamos de uma causalidade questionável. Essa causalidade já foi
criticada em trabalho empirista de filósofo David Hume, onde na
verdade vemos fatos e coisas sem qualquer ligação. Assim o homem
pode ser fiel sim, cuidar da esposa e respeitar sua vida e situação.
O que o corrompe é muitas vezes a sociedade, como mostrou Rousseau.
E a sua ética é um meio, e não um fim, como demonstrou Kant.
Esse
romance (imaginário) de uma artista plástica com um médico, em
muito dá no início do filme que condenar. Achamos que ele trai a
esposa e que é um canalha. Depois na outra versão notamos que a
prova e a inocência está mais a favor de outra situação, e que o
filme supera em muito aquelas comédias românticas de costume. O
filme explora a erotomania dela e assim, um transtorno psicológico.
Nesse a pessoa se apaixona e por qualquer sinal da pessoa amada, se
vê também amada. Mas na verdade nada existe, e apenas há na cabeça
da pessoa esse evento. O filme é assim um dos que tenho na
prateleira, e ainda mais com a linda Audrey. Gosto dela porque é
engraçada e não passa aquela coisa de outras atrizes, como de
filmes que parecem duvidosos, de outras produtoras e países. Por
fim, o condenado previamente se torna depois inocente, pelo final que
se percebe no filme. A inocência tem de ser mesmo presumida, e não
a culpa. Fica a lição de penalistas e juristas. A causalidade
precisa ser revista em nós.
Muito bacana o filme e bem diferente mesmo. Legal a crítica
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