A culpa é das estrelas e pensamento de Schopenhauer e Nietzsche
Adaptando
o livro homônimo de John Green, “A culpa é das estrelas” se
revela o filme mais emocionante dos últimos tempos. De uma produção
de Temple Hill e outros, a película mostra uma moça, Hazel, com
câncer terminal no pulmão, de modo que ela anda com oxigênio junto
a ela. Não sem perder o charme. Ademais, ela conhece Gus, que sofreu
uma afecção de modo que perdeu parte de uma perna, e depois
sofreria de demais doenças fatais, que também demonstra grande
compreensão existencial, apesar de ambos adolescentes. Um filme para
chorar, e mais, um filme para diminuir os próprios e míseros
sofrimentos, incomparáveis aos personagens que rondam essa produção.
Como teria dito Nietzsche, um famoso filósofo sofredor, em uma carta
a sua irmã: “Para que uma ética seja ao menos possível, deve-se
saber qual sentido cada época confere ao sofrimento”1.
Em
A culpa é das estrelas se vê uma crítica ao compadecimento das
pessoas do ponto de vista crítico de quem sofre com a doença. O
câncer é assim colocado como uma condição humana e existencial, e
as pessoas desejam viver. Viver cada dia como se fosse o último e
especial. Seja para deixar o nome a posteridade, como pretendia Gus,
seja para amar e conhecer seu escritor favorito, como queria Hazel. A
fita começa com uma sinopse e deixa quem assiste o filme situado,
mesmo que não tenha lido o livro antes, o que foi meus caso. Os
personagens são engraçados, como o pouco talento de Gus no volante,
ou mesmo o seu amigo que depois fica cego, o mais adolescente de
todos. Já Hazel pensa que sempre seu amigo será um amigo. Com o
tempo vem a declaração dele de estar apaixonado, e assim ela
liberta seus sentimentos antes aprisionados na doença, limitados
pela ideia de ser uma granada.
O
sonho de Hazel é uma viagem a fim de conhecer seu escritor favorito,
para assim saber do final da história que tanto a perturba. Fora a
crise que sofre e o cancelamento da viagem, que depois é remarcada,
ela tem essa perturbação. E o escritor é mais morto que ela, um
“bêbado fracassado”, nas palavras dela. Mas me lembra
Schopenhauer, pois há um pessimismo no discurso dos personagens, um
direito a esse pessimismo. Apesar de o amor conseguir chegar em uma
relativa metafísica, apesar de haver uma densidade muito grande
nesses dois jovens que se amam. Parece que os personagens sabem
demais, são muito letrados, muito culturais. O amigo de Gus que fica
depois cego, é o mais normal da turma. Ele nota os seios das moças
e joga videogame. Já o casal que se ama, a princípio como amigos,
tem o lado bom de superar a doença, mas por outro lado já
envelheceram. Há um aspecto saturnino e melancólico no filme e no
livro, uma fatalidade de predestinação. A predestinação da
ciência, não da existência ou do ser. Predestinação para a
morte.
O
filme de início me lembrou outras duas obras do cinema que tem
enredo parecido: “Uma prova de amor”, onde uma adolescente com
câncer sofre seus impasses existenciais e também conhece um amor, e
“Love History”, onde o amor surge entre pessoas diferentes,
restando a morte da amada no final. Esses filmes completam o A culpa
é das estrelas, e ainda existem e existirão outros. De positivo é
se ver que quem sofre com a doença não é a doença, e que tem o
direito de curtir, viver, zoar e fazer o que quiser. Apenas ficou um
pouco estranha a forma que se trata a espiritualidade e religião na
obra, o que poderia ser mais trabalhado. Gus declara acreditar em
algo além, mas Hazel parece ser ateia. Quando ela fala nos números
infinitos entre 0 e 1, talvez nesse ponto possa haver algo místico
em seu ser, superando a morte que a ronda. Mas isso me fez antes
pensar na hipótese de Rhiemann, e no significado do universo.
Universo que ganha com o amor, que ressignifica todas as coisas, que
faz a alquimia capaz de imortalizar e curar todos os males. O filme
merece homenagem pois adapta bem o livro, e revela a melhor produção
dos últimos tempos, como uma forma inteligente e sensível de drama.
Uma experiência de Pavlov para testar as glândulas lacrimais, uma
obra de arte que traz a aura do cinema, quando já não parecia ter
mais aura. Por isso a plateia de uma sala levantou e bateu palmas.
Sem propaganda e sem política, a plateia bateu palmas para um filme
que nem conhecia, para um filme que emocionou, que mostrou o poder
transcendente da arte. “A culpa é das estrelas” merece essa
palmas verdadeiras, merece ser vista e para que o sofrimento seja
transformador, assim como Nietzsche desejava aos amigos. E assim um
amor fati, um amor ao destino, e amar nesse destino. Hazel
cumpriu seu amor fati.
1ASTOR,
Dorian. Nietzsche. p. 89.
UMA CRÍTICA CRIATIVA SOBRE O FILME. AMEI E ESTOU COMENTADO PRA TE PARABENIZAR PELA BELA CRIATIVIDADE.
ResponderExcluirObrigado Nery. O filme em si deixou de lado a filosofia, apesar do livro enfatizar o tema, em especial pelo autor de Uma aflição imperial, que foi transformado em vilão no filme. Ele fala do paradoxo de Zenão, no caso da tartaruga, e dá impressão no filme que ele ofende Hazel, mas ele fala de filosofia e tenta explicar o fim do livro. Também a Hazel tem amiga, o Isaac é amigo dela mais constante que no filme e há mais detalhes no livro. O hotel que eles ficam se chama Filosoof. Assim o livro tem mais característica filosófica que o filme. abraço
ResponderExcluirParabéns Mariano, gostei muito da sua crítica a este maravilhoso filme. Realmente este filme nos mostra como às vezes nós sofremos por coisas tão pequenas, existem problemas maiores que os nossos como o câncer. Deixo aqui o nome de um filme que está dentro deste contexto de A Culpa é Das Estrelas, se chama Um Amor Para Recordar, que é também sobre uma garota com câncer, a história é do Autor Nicholas Sparks, vale a pena conferir. Bj e forte abraço!
ResponderExcluirOI. ADOREI. VOLTE SEMPRE CAROL. E VEREI ESSE FILME QUE VC SUGERIU
ResponderExcluirMuito boa resenha, obrigada por compartilhar, você me inspirou para ver de novo. Esse filme é bom pela escolha de elenco que teve especialmente Laura Dern. Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Também desfrutei muito sua atuação no filme sobre a Mc Donalds historia no ano passado. É de admirar o profissionalismo deste ator, trabalha muito para se entregar em cada atuação o melhor, sempre supera seus papeis anteriores. Se vocês são amantes do trabalho da atriz este é um filme que não devem deixar de ver.
ResponderExcluirMuito bom. Volte sempre
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