"Round 6" e a lógica econômica totalitária

 

“Round 6” e a lógica econômica totalitária







Série de produção coreana que retrata centenas de pessoas super endividadas que não têm outra saída, a não ser entrar em um jogo mortal, em uma ilha deserta. A série em trailer parecia o clipe da banda Pink Floyd, The Wall, ou filme Cubo, mas com algum tom mais infantil ou colorido. Nesta ilha que se opera os desafios mortais. As pessoas têm de cumprir provas de brincadeiras da infância, quando do contrário elas pagam com a vida. Uma linha de produção, de sacrifício humano.






A série mostra a lógica de certo totalitarismo, seja capitalista ou comunista, de direita ou de esquerda, uma vez que tem pessoas da Coréia do Sul e da do Norte, e até um paquistanês. Nota-se um mecanismo de morte desenvolvido com base no consumo e no dinheiro, e o ideal da ganância ou avareza, que mata muitas pessoas, ou destrói vidas. O filme revela também trabalhadores mascarados, numa espécie de sociedade secreta, que é o jogo, que se diz uma esperança para as pessoas endividadas. Vemos um mundo endividado, onde as pessoas não têm saída para viver, ou para suas necessidades básicas. A alienação é tanta que hoje se acha bom determinado governante ou outro, ou que sua pátria é perfeita, quando unicamente é um sistema de injustiças e morte. O filme também retrata as pessoas por números, o que lembra um campo de concentração. O fascismo é relembrado nessa série, que dificilmente não se fará a correlação. As classes também são bem claras, com aqueles que controlam o jogo e aqueles que são meras peças descartáveis, morrendo quando não cumprem os desejos e regras impostas pela classe dominante, no jogo. A ilha ainda lembra presídios de segurança máxima, e os dormitórios algo militar, revelando uma arquitetura e estética urbana e funcional.





Quantas pessoas hoje não se veem perdidas com relação às dívidas que não podem pagar? E quantos são dominados por bancos, que governam o país há muito tempo? Na série, a alienação é tanta que mesmo as pessoas se livrando do jogo de morte e sacrifício humano, elas voltam, unicamente pelo dinheiro. O bezerro de ouro da sociedade pega todos em sua tentação, desde pessoas simples, religiosos e até mesmo quem já conquistou elevada classe. Sem dinheiro, nada mais se faz. E o futuro é do digital, reservando pleno controle de quem tem as tecnologias. Entre os personagens, está o que não consegue a guarda da filha, viciado em jogos, bem como outros, igualmente fracassados em sua vida social e econômica. Em verdadeira aporia ou falta de saída, o Round 6 mostra a sociedade industrial, em sacrifício humano e total desvalor do mesmo, num totalitarismo do capital. Seja em aparente comunismo, ou mesmo capitalismo, direita ou esquerda, tanto faz, o povo mais pobre é mera parte da engrenagem, descartável, usado para um grande jogo de mercado, para o que futuramente será o transhumano, as criptomoedas, a Nova Ordem Mundial e um sistema que engloba a todos, colocando mortalmente uns contra os outros, num jogo onde apenas ganham os donos, bilionários, corporações internacionais e livres de qualquer dívida que lhes provoque maior dano. Enquanto os jogadores humildes pagam com a fome, com a vida que é ceifada, com perda de família e tudo mais, por não terem dinheiro. Round 6 é um retrato de nossa sociedade e seu totalitarismo econômico.

Mariano Soltys, advogado e professor

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