Rambo 4 e o arquétipo do masculino
Rambo
4 e o arquétipo do
masculino
O filme Rambo 4 é uma
curiosidade: ele é dirigido pelo próprio Rambo, ou Sly (Sylvester Stallone). Assim
o filme garante uma certa fidelidade com os anteriores, apesar de que mil vezes
mais violento e realista, e mais de 20 anos após. Esses dias vi os três filmes
anteriores, e fiquei impressionado com a trilha sonora, de como é emotivo o filme,
levando o cinéfilo a sensação bélica e de honraria. Mas aqui no presente, a
trama se desenrola no norte da Tailândia, na antiga Birmânia, ou em Mianmar,
que é considerado o pior lugar do mundo, por ferir direitos humanos e por lá
haver uma ditadura militar de certo modo criminosa. Assim, o filme começa
mostrando as atrocidades, cenas reais do local. Também mostra o Rambo como
espécie de adestrador de serpentes naja e ainda ferreiro e barqueiro. O barco é
característico daquela região, usado no Rambo 2. O filme em muito parece uma
continuação de Rambo 2, e não do 3, uma vez que não teria muito sentido fazer
do Afeganistão um herói, como lá havia feito. No mais o filme tem ótimo som de
explosões e tiros, e agradará aos fãs, apesar de que não é o melhor da série. Claro
fica porém o arquétipo masculino, marcial, guerreiro, pelo ferreiro que é o
John. Também por toda a falta de relacionamento, uma marca feminina de
existência, e por não ter filhos. Assim chineses diriam que Rambo é quase 100%
yang.
A ideia para se fazer
o filme inicialmente era de se desenrolar no México, mas por problemas de
imigração ilegal e tudo mais não se decidiu fazer naquele país. Por outro lado,
como o filme continuou o segundo, achei que finalmente o Rambo iria reencontrar
o amor, tendo em vista que naquele ele arrumou a namorada tailandesa. Porém apesar
da participação da missionária loira, a mesma era noiva, de modo que não rolou
a saída do armário de Stallone. O filme foi feito na mesma época que Rocky Balboa,
então ficou meio estranho, parecendo que foi feito com pressa. Pra começar as
cenas excluídas não deveriam ser, haja vista filme parecer rápido demais,
comparado aos demais. Legal foi que ele é quase ateu e disse que lá na Birmânia
não se precisa de livros ou Bíblia, mas de armas para salvar aquela gente. Por
certo acertou, porque os missionários viraram picadinho nas mãos dos militares.
E lá foi Rambo metralhar os dito cujos, como um cangaceiro.
O melhor Rambo foi o primeiro. Muito bom o
personagem, porque ele é bem introvertido e desconfiado, característica de
nosso tempo, onde não sabemos dos charlatões que nos tentam enganar. Assim ele
apenas ajudou a loira missionária porque confiou nela, não por causa de sua
religião ou evangelização. Por fim ela se vê salva e parece que leva a crer que
largaria essa ilusão de querer mudar a mente de criminosos e psicopatas
militares de países falidos. Ademais, o que precisa esse país é de intervenção
internacional por ferir direitos humanos e manter guerra civil sem motivo. Mas
o primeiro Rambo era a história de um vagabundo (e mesmo, foi preso por
vadiagem lá...), que é humilhado ao voltar da guerra do Vietnã. E não adianta
fazer filme, aquela guerra eles perderam. Mas demonstra naquele que tem
inúmeros talentos, e talvez a qualidade de Marte, o deus da guerra. Na cabala
se chamaria Geburá, o “Senhor dos Exércitos”. Mas fato é que o motivo da guerra
pela própria guerra revela a natureza humana, do sistema reptiliano e dos
instintos ainda vivos em pessoas que não evoluíram moralmente.
Em Rambo 4 se tenta
fazer um herói, talvez o povo Karen, que é espécie de nativo da região e não
tem ainda independência, sendo massacrado, quase exterminado. Lá em Rambo 3 o
herói era o afegão, que diziam ser o melhor guerreiro da história, por vencer
Alexandre o Grande, Gengis Kan, on ingleses e todos que lá tentaram se
infiltrar (acho que venceram os americanos também...). Isso tudo me lembra da
Arte da Guerra de Tzu e daquela Arte da Guerra de Maquiavel, obras que dão uma
noção de como pensar militarmente. Mas em Rambo 2 houve um sentimento de
compaixão e uma parcela de yin, de amor pela tailandesa, de modo que vemos que
o homem da guerra gosta também de Vênus, ou das mulheres. Assim o marido de Vênus
é um ferreiro e a serpente do Gênese acaba unindo Adão e Eva. E Rambo é nesse
filme 4, quase um encantador de serpentes.
Pesquisas com meninos pré-adolescentes, mostrou na TV Escola que
seu comportamento agressivo é uma marca masculina. Assim o padrão é uma espécie
de ser para a guerra e para a caça, o que vem já em sua genética. Vemos que
isso ainda existe sutilmente em uma cultura onde existem esportes de luta, e
onde o homem acaba ganhando salário maior que a mulher. Injustiças a parte,
vemos que a própria mulher faz uma noção de homem que é inalterável, e se for
de comportamento diverso acaba por não atrair ou por ser visto como de outro
gênero. Fato é que Rambo e uma série de filmes agressivos mostra o arquétipo
masculino, pois é próprio do desejo essa marca fálica, é mesmo a natureza
fálica. Já Freud teria observado, e mesmo Jung, que isso está no arquétipo,
numa espécie de tradição cultural e coletiva da humanidade. Eu mesmo em infância
e adolescência era meio violento, e às vezes brigava com amigos. Fato é que
isso tudo é uma marca de Vir, de virilidade comum. Acho que porém o exagero da
exclusão do feminino ou yin acaba por parecer mais outra coisa, com o que
fizeram os gregos antigo e os romanos, que por sinal era guerreiros. Fato é que
Rambo 4 poderia ser melhor, mas mesmo assim foi uma boa produção.
Mariano Soltys: a tônica de Rambo é realçar a importância e o poder do indivíduo. Na verdade, o indivíduo nada pode, ele é um nada quando bate de frente com o sistema. Somente o movimento efetivamente social tem poder contra o sistema. O indivíduo tem apenas o poder de pensar profundamente e nem mesmo poderá dar conhecimento do que pensou, pois o sistema lhe impõe os cerceamentos editoriais e territorialescos. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY
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