Filme Fuja e a dependência materna do vulnerável

 

Filme Fuja e a dependência materna do vulnerável






O filme Run, ou no Brasil Fuja, mostra uma menina cadeirante vivendo com sua mãe, tomando remédios e tendo o sonho de entrar na universidade, esperando o tão desejado envelope do correio. Ocorre que aos poucos começa a perceber manipulação da mãe, seja com os medicamentos estranhos que recebe para tomar, seja pelo cárcere privado que a limita de ter o contato com o mundo. A simbiose com a mãe passa a se romper, quando percebe tomar um medicamento que causa paralisia das pernas. Noutro momento ela fica limitada por não ter internet, e assim telefonar para estranhos a fim de pedir socorro ou ajuda. 


O curioso que a atriz é cadeirante, e assim mostra uma verdadeira inclusão no cinema, o que podemos apenas presenciar agora em versão streaming. Também mostra a grande capacidade e normalidade de todos, sejam eles limitados intelectualmente, sejam fisicamente. O Estatuto do Deficiente já ampliava os direitos e liberdade de todos, mas não foi muito divulgado ou recebido pela sociedade. Direitos como o de negociar, casar, etc, são ainda vistos como proibidos por parte de quem convive com alguma limitação, pela sociedade. No caso do filme a mãe tenta de toda a forma limitar a filha, não a deixando viver a vida, ter a vontade de viver a que falava Schopenhauer. O vulnerável acaba se limitando, não tanto por si mesmo, mas por parte do que a sociedade faz dele. Os preconceitos, tema inclusive de recente ENEM, mostram o quanto se é difícil mudar o ponto de vista das pessoas. Tentou-se acabar com a APAE, ainda se tentou criar escolas especiais de outras formas, excluir os vulneráveis, e isso tudo mostra uma sociedade bem confusa com a inclusão de todos. Na escola faltam segundo professores, intérpretes de LIBRAS etc, e isso mostra o quanto ainda se é dificultada a vida de cadeirantes e outros. 


No filme fica por fim o mistério se a menina podia mesmo caminhar ou não, uma vez que não aparece no final caminhando com grande progresso. O melhor que é todos temos fugas existenciais, e somos de algum modo limitados por alguém.

Mariano Soltys, professor e advogado

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