Filme “Cubo” e as prisões epistemológicas

Filme “Cubo” e as prisões epistemológicas


         Essa produção canadense de Vincenzo Natali, supera o esperado, e choca logo pelo local em que se desenrola: em um cubo que serve de prisão, repleto de armadilhas onde seis pessoas vivem uma espécie de reality show, umas assistindo as outras morrerem de forma fatal. O filme tem uma violência comparável aquelas produções intituladas “Premonição”, porém com um foco de ficção científica, indicado a todos os intelectuais e eruditos. Tentamos decifrar o enigma das armadilhas e assim o filme se diferencia dos outros, porque trás certa participação do cinéfilo. O filme traz duas opiniões: ou se ama o filme, ou se odeia.
         Começa por um homem que cai em armadilha, e assim também foi no Cubo Zero, que trouxe as respostas da primeira versão. Aqui no Cubo vemos que as coisas trazem uma série de questionamentos dos seus reclusos, como se trata de coisa do governo, de conspiração ou mesmo de um psicopata. Porém na crise as pessoas se tornam até violentas e revelam traços inexperados de suas personalidade. Além de que cada uma tem sua prisão epistemológica, seus conhecimentos limitados. A matemática só entende dos cálculos, que parecem ser a salvação, mas não resolvem o problema de procurar a saída dos 21 cubos, ou milhares de cubos que funcionam em mecanismo caótico. O policial acha que entende das coisas e quer bancar o herói, mas acaba sendo por fim o vilão. A médica entra quase em choque, e não auxilia muito, a não ser atrazer mais pessimismo ao grupo. O deficiente mental começa como excluído, mas acaba sendo a salvação do grupo, porque é gênio em matemática e em descobrir os tais números primos, chave do enigma.
         As perguntas que ficaram no primeiro Cubo foram respondidas em outra produção, em Cubo Zero. Lá vemos o grupo de pessoas malucas que cuida desse dispositivo de morte e vemos que muitos até saem do cubo, mas não respondem certo a pergunta fundamental: “você acredita em Deus?” e assim acabam na fogueira e acorrentadas, após não responderem. Um clima meio medieval e misturado a tecnologia e a arquivos semelhantes a que possuía a segunda guerra, em local subterrâneo, quase um inferno tal Cubo.
         Primeiro pensei em um fractal, quando amigo meu sugeriu esse filme, mas ao assistir vi que não se tratava de algo virtual, mas da própria escravidão epistemológica das pessoas, seu individualismo que não salva e ideias limitadas. Umas condenam as outras, crenças se opõem a crenças e forças obscuras existem. Também me veio a ideia esotérica de cubo, que se trata da dimensão material de existência, que por tal é tridimensional, limitada por tempo e espaço. Superar essa roda ou cubo é na verdade encontrar a verticalidade e a epistemologia suprema, não mais tendo de entrar nas encarnações e mortes, ou na roda de sânsara hindu. Isso leva a Nirvana ou ao paraíso de Deus. Vi no cubo tudo isso e um pouco mais. Além da tecnologia inserida para controlar o ser humano, no reality show do grande irmão a que vivemos hoje em dia, controlados por internet, celulares e outras coisas, que não notamos.
         Fato é que quando terminamos de ver o Zero que entendemos o primeiro Cubo, e assim admiramos de onde surge tanta criatividade. Nos comentários do diretor, vemos que várias dicas são fornecidas, e que o filme traz muito de nossa cultura, apesar de também levar a questionamentos. Vejo que na ideia do ser para a morte, já falada por Sartre, pode ser uma chave possível a essa produção canadense. Vemos tantas armadilhas existenciais, como fanatismos, crenças absurdas, crimes, jeitinhos, etc, que se há uma lei maior, as pessoas estarão logo massacradas pelas armadilhas que elas mesmas montaram. O filme Cubo apenas mostra tais detalhes de forma fictícia, mas revela bem os preconceitos sociais, em especial com o transtorno mental e com a falta de fé verdadeira das pessoas, bem como seu egoísmo e luta pela sobrevivência. Um filme que tenho na prateleira e que sempre revela algo novo. Não se trata de filme clichê e sim, tem muita inovação. A curiosidade é que todos os personagens têm nomes de prisões pelo mundo, e que foi filmado em câmera de mão. Também o destaque fica para a empresa de efeitos especiais, a Core, que recebeu premiações. Mas fica a lição de aprender a saber pensar, para superar as prisões da existência.

Comentários

  1. Mariano Soltys: penso que cada um de nós está dentro de um cubo ou dentro de um plexo de relações matemáticas. Ocorre que insistimos em não acreditar nisto ou, se acreditamos, não interiorizamos. Talvez seja até melhor passar ao largo da numerosidade da vida, às vezes. Desde a eternidade estão contadas as batidas de nosso coração e as instiladas de ar que inspiramos com nossos pulmões, é aterrador. E,como no cálculo proposicional, mais importante do que chegar ao resultado é atingi-lo por mecanismos mentais arrojados que economizem linhas, de sorte tal que o objetivo é alcançado em tempo hábil. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

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    1. Alguém pode me dizer a importancia da matemática nesse filme?

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    2. Pela matemática, é descoberto a localização através das coordenadas, se o lugar tinha armadilha e para dar importância a certos personagens, nos quais estes não podiam morrer.

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  2. Pelo que entendi o filme trata da morte e se existe algo além,para começar os que lá acordam,acordam do nada,como a morte,que é subita,e o cubo mostra que algo que projetamos o exterior é impossivel,como uma ideia sobrenatural.

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  3. ISSO MESMO. ESSA É A MENSAGEM PRA MIM TAMBÉM. NÃO SEI SE O DIRETOR PENSOU EM TANTO. NUMA ENTREVISTA QUE VI NOS EXTRAS NÃO PARECIA, SERIA MAIS A BUROCRACIA ESTATAL O TEMA. MAS VOLTE SEMPRE. ABRAÇO

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    1. Alguém pode me dizer a importancia da matemática nesse filme?

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  4. Não é difícil ver que o cubo trata da 4 quarta dimensão - ou como pode ser imaginada. Para quem assistiu todas as edições, ficou claro que que as "salas" podiam apresentar diferenças internas (isto é, o problema envolvendo a translação não era a chave do mistério): num sala as coisas se movimentavam rapidamente enquanto em outros tudo se passava mais lentamente (INCLUSIVE o tempo). A morte também não parecia ter significado. A grande sacada dos autores foi envolver a Física Quântica nos processos. Muita coisa impossível no mundo clássico é lícito na realidade quântica. E as explicações foram bem convincentes. Como entretenimento, nota 10.

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  5. Só muito chapado pra ver lógica nesse filme de terror que perde em roteiro até para Jason em sexta feira 13.
    Parem de usar drogas e não assistam essa trilogia que é uma verdadeira perda de tempo.

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    1. Sem logica? Você assiste o quê? Filmes q não trazem nada de grande coisa pra humanidade, deve gostar de filmes que so há mortes por haver mesmo sem motivo. Fassa me um favor, vê se para voce de usar drogas e sai desse seu mundinho de ignorância

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    2. Alguém pode me dizer a importancia da matemática nesse filme?

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  6. O filme é uma bosta completa. É um completo nonsense. Parece se enquadrar na arte do movimento dadaista. Certa vez um professor de literatura explicou o que era o dadaismo: uma bosta completa, não significa nada, pretende apenas chocar com o tosco e o rídiculo.

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    1. Me pergunto q tipo de filme você assiste, pra dizer q esse filme é uma bosta! Deve gostar de abismo do medo kkkk ��Te aconcelho a assistir mais filmes desse tipo(cubo) pra ver se seu cérebro funciona kkkk

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Valeu. O filme faz pensar, e sai do que nos oferece a Indústria Cultural. Uma opção para quem deseja algo diferente.

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  9. Mesmo, é no Cubo 2 que vemos mais a questão da mecânica quântica e física teórica. Mas em todos há essa dimensão.

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  10. Desculpa, mas parei em "...umas vendo as outras morrerem de forma fatal."

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    1. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK passou despercebido essa pra mim

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  11. Mecanica quântica??????? Fisica teórica???????

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  12. Realmente, acabei de assistir o terceiro filme a alguns minutos. E, estava esperando respostas. Concordo que não dá pra se ter certeza se o filme é bem retratado ou não, pois não(ou fica difícil) dá pra se saber o objetivo implícito que ele tem. Mas realmente não tinha pensado nessas questões que ficam subtentidas. Eu achei interessante o primeiro filme, por ver como a personalidade de uma pessoa pode mudar conforme as situações. O segundo filme, totalmente NONSENSE, assim, ele se prende muito a explicar as coisas, os efeitos ficam bonitinhos até, mas, não. Mas o primeiro e o terceiro filme, realmente, interessantes. Mas sobre o roteiro, assim, não se dá pra dizer que é bom, nem ruim, por que o objetivo é meio difícil de se entender né, só quem sabe é o diretor. Por que, o roteiro, do primeiro, ficou legal, muito bom. Mas no último, ficou estranho demais, os caras dos olhos verdes, que caçam os outros, tabém desnecessário que nem toda aquela parafernália do segundo filme. Mas, dá mais algumas dicas. Todavia, a trilogia é muito interessante, e é realmente muito bom pensar nessas perguntas e explicações que ficam subtendidas nos filmes.

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    1. Bela resposta e considerção meu amigo! Finalmente um comentário construtivo! Pessoas que só falam mal e xingam as coisas, não abrem a mente nem para refletir. Este aqui é um site sobre filosofia, logo pensar é um requisito. Abraço!

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  13. Alguém pode me dizer a importancia da matemática nesse filme?

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    1. O filme é uma analogia ao mundo onde tudo é estruturado pela matemática, e apenas aquele que habilmente a compreende, vive.

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  14. vejam agora a crítica de Cubo 2 em http://filmesefilosofia.blogspot.com.br/2016/02/cubo-2-e-fisica-quantica.html

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  15. Faço parte dos que amaram o filme, mas respeito quem não gostou.
    Eu acho que fica mais interessante quando não há o que entender, uma conclusão discutível. Finais não óbvios. Advogado do Diabo é um filme bom, mas quem não previu o final?
    As pessoas estão acostumadas que tudo faça sentido, como começo, meio e fim, mas ficam confusas quando isso foge da regra, e isso se torna menosprezo e deboche. Não entender algo pra mim é motivo de preocupação e inquietação.
    Minha opinião é simples, basicamente as pessoas presas tentavam encontrar a saída, e quanto mais procuravam, mais se distanciavam dela. A vida é feita de escolhas, e escolhemos o que já conhecemos, mesmo que seja uma escolha racional, ela tende a ser a mais confortável. Quando escolhas novas e desconhecidas se tornam a única opção, ainda agimos como se estivéssemos no controle, até ao ponto de tudo se esfarelar, e admitir que alguma coisa tá errada, e começar pela estaca zero, revendo conceitos, preconceitos e adicionar tudo ao que já conhecemos, tornando-nos mais completos e lúcidos.
    O criminoso no Cubo foi o primeiro a morrer, exatamente por ser o mais confiante, pois se julgava mais esperto, pelo sucesso na fuga de diversas prisões, estava confortável naquela situação, e isso o levou à morte, mesmo que inicialmente era o mais preparado a sobreviver.
    Por outro lado, os outros que nunca passaram por situação parecida, estavam cautelosos, e absorveram tudo de útil da breve vida do criminoso.
    A médica teve papel como apaziguadora de ânimos, era a que tinha as emoções mais harmonizadas.
    O engenheiro era indiferente a tudo que acontecia, pois conhecia a maldade das pessoas e nada de ruim era surpresa. Tudo o que ele fazia era viver. Seu papel foi dar pistas do mecanismo do cubo, pois desenhou a parte externa.
    O policial foi colocado para ser mais um obstáculo ali dentro, pois era sabido que suas emoções eram frágeis e poderia ser uma bomba relógio ali dentro.
    A estudante de matemática por motivos óbvios deveria ser preservada mais do que qualquer um, pois decifrava as coordenadas e até certo momento onde se acreditava, as armadilhas.
    O doente mental deveria ser ingenuamente preservado até o momento em que ele manteria todos a salvo, quando foi sabido que era um gênio na verdade, e fez sentido como ele sobreviveu sozinho até todos se encontrarem. Até esse momento, era um fardo pesado naquele ambiente hostil.
    Eu ainda penso que o doente mental era um funcionário genial do cubo, até passar pela mesma cirurgia que passou o operador no Cubo Zero, que o incapacitou para algumas funções, mas deixou preservado outras, como a faculdade de calcular. O movimento na mão direita, as batidas de cabeça na parede e a preferência pelas salas azuis deixam evidente isso.
    No final de tudo, não há sobreviventes, não pode haver, senão colocaria em risco todo o experimento. A pergunta idiota no final “Se você acredita em Deus?” é apenas uma desculpa para matar, pois é sabido que qualquer um que passar por todo aquele trauma vai responder negativamente.
    A resposta “Sim” levaria à morte também. Embora ninguém a tenha escolhido.
    Todos aqueles envolvidos no projeto são enviados ao cubo para morrer, pela menor participação que tenha havido. O destino dos funcionários do Cubo Zero era a morte também, uma hora seriam enviados ao cubo, e o gordinho do xadrez sabia disso, e se mantinha o mais subordinado possível, não querendo saber do que acontecia, para não dar motivos para ser enviado para lá.
    O gordinho do xadrez representava o que os responsáveis pelo cubo queriam, uma sociedade não questionadora, que apenas obedecia as regras cegamente.
    Interessante que em todos os filmes tem deficiente mental, pois estes em seus momentos de lucidez sempre apresentam alguma verdade a se refletir.

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    1. Muito boa sua analise. Achei curioso tbm e pouco analisado o fato dos personagens no primeiro filme permanecerem com memória, enquanto antes (no Cubo Zero) eram completamente apagadas. O militar "bionico" tem uma grande semelhança com o policial do primeiro filme, e exerce quase o mesmo papel na parte final e não acho que seja atoa, mas é agora mais desenvolvido e menos com cara de máquina. Também faz muito sentido o engenheiro não querer sair quando ver a luz branca, pq lá fora esta a "estupidez humana" e mto provavelmente sabia o que lhe esperava. A cena final do Cubo Zero é realmente muito boa e pouco importa se os dois personagens autistas são a mesma pessoa ou tem histórias semelhantes, é muito interessante. Não vi o segundo filme, talvez em outra oportunidade.

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    2. Colocações excelentes! Nos trás uma bela reflexão! Obrigado!

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  16. Esta série faz parte de minha coleção de cults. Pensem em todo o contexto como uma dinâmica de grupo. E "morrendo de forma fatal" foi simplesmente hilário.

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  17. uma tremenda falta do que fazer, um pevertido matando pessoas por diversão, onde tem filosofia nisso???

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  18. O Filme é uma metáfora, pra quem sabe o que é METÁFORA,vai entender perfeitamente o filme nos faz pensar fora da "caixa"

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  19. O cara falou no início do filme não sei quem sou, nem o que faço aqui,nem sei pra onde vou,perguntas existencialistas, fazer uma analogia a atual sociedade materialista e mergulhar no final como o cara mergulha na água nas profundezas do nosso interior ir até o final .... para descobrir a centelha divina.. um pergunta que leva a outra que leva outra e assim infinitamente...
    Atenciosamnte Valeria

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