Séries e filosofia - Osmosis e dorama


Séries e Filosofia



“Porque esta é a minha primeira vida” e o estoicismo




Semana passada tivemos o “Dia dos Namorados” e isso pedia uma série de amor de primeira. Norteamericana? Nada. A série tinha de ser de dorama, ou de um drama sul-coreano. A melhor a se escolher seria a “Porque esta é a minha primeira vida”, onde um jovem casal se conhece, após desencontros amorosos em relacionamento anteriores, de modo que dão um beijo em um ponto de ônibus. Nam Se Hee é um homem que beira os 40, de modo que deseja que nada mais aconteça em sua vida, incluindo nisso o amor. Apenas se importa com seu pet, uma gata que cria com muito carinho. Já ela, Yoon Ji Ho é uma escritora fracassada, que escreve para serviços de terceiros, em pequenos doramas. Vivia ela em um porão, mas foi assediada por homem com que trabalhava, tendo de ir com seu pijama procurar socorro, e desse modo parando no ponto de ônibus. Nesse momento que conhece Nam See Hee, um jovem sério e pacato, reservado e indiferente às coisas do mundo, a não ser o seu trabalho. Ela então vira inquilina e paga aluguel para ele. Detalhe: ambos têm de fazer um contrato de casamento para garantir o negócio. Assim o fazem, surpreendendo a todos, em um casamento sem amor, por mero negócio, moderno. 





Esse aparente estoicismo, ataraxia, ou indiferença das coisas acaba por certo momento surpreendendo, despertando um amor que por mais de dez capítulos, ou dez horas, não dá qualquer sinal de manifestação dos personagens, a não ser em seu segredo. Outros casais têm suas dificuldades, uma amiga tem casos, e outros fazem piada de seu casamento. “Porque esta é a minha única vida” é uma boa comédia, inocente e ingênua, que leva o espectador a assistir uma relação quase líquida, distante, profissional, contratual. Contudo, ao fim as coisas mudam, e o casamento ganha realidade, mas já rompido pelo divórcio, ou pela relação de amor, e não de obrigação. Refletiu o aplicativo a que ele trabalhava: “Namore, não se case”. Talvez essa foi uma das várias lições sobre relacionamentos, outros com casamento, como um fim necessário a uma sociedade de jovens que só pensa em estudo e trabalho, e que não namora ou se casa, como a coreana retratada.



“Osmosis” e Banquete de Platão






O futuro reserva formas de relacionamento virtual. As pessoas buscam a felicidade através de vários aplicativos ou app. Isso parece distante? Talvez nem tanto. Em Osmosis uma empresa oferece o serviço que encontra a alma-gêmea, uma pessoa que desperta grande paixão, e que garante a felicidade e o amor. O serviço se trata de um chip onde a pessoa insere em sua mente certas coisas, sendo também usado para fins terapêuticos, na série. Contudo, algumas coisas parecem dar erradas, e o amor se mistura a crises dos personagens, loucuras e a suspeita de que os próprios CEOs da empresa não amam, ou enlouquecem com a situação. Isso lembra o Banquete do filósofo Platão, onde se discute a origem do amor, a situação de lendas de pessoas que tinham duas partes e foram separadas, a noção de deusa Afrodite e outros assuntos. Por fim seria o amor filosófico um tema especial, e esse mais elevado.




 Osmosis também promete essa resposta ao amor, e muitos ali encontram a sua alma-gêmea. Mas pareceu mais uma paixão, ou no dizer dos gregos, uma Afrodite inferior, um Eros mais carnal, e isso não se sustentaria por muito tempo. O amor mais elevado, um amor celeste, esse dependeria mais de alma, e não tanto de paixões. Curioso que na série há a diversidade de gênero, ademais. As tecnologias auxiliam e atrapalham as pessoas em seus relacionamentos. Está muito atual se conhecer via internet. O Osmosis pode oferecer boa reflexão sobre o amor, sobre cibernética e a liquidez de nosso tempo. Já existe programa de TV onde as pessoas se casam sem conhecer, com par escolhido por especialistas, psicólogos e sociólogos e outros. Será que o amor do futuro estará sem escolha?  

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