Filme Perfume: o elixir do desejo

      FILME PERFUME: O ELIXIR DO DESEJO     


           
O filme retrata bem a proposta de seu título: todo o poder e segredo dos perfumes é aqui revelado nessa película dirigida por Tom Tykwer, que segundo amigos meus foi o filme mais maluco que já viram. Sobre a minha experiência, foi mais o final do filme que me surpreendeu, e a questão da parafilia olfativa do protagonista, Jean Baptiste Grenouille, já não era para mim novidade, somando-se apenas o seu ofício de serial killer para sustentar sua compulsão. O super poder de olfato parece ser bem interessante no inicio da película, e a adaptação do livro foi parece boa. Até as pedras o cara conseguia perceber, e quando encontrou uma bela jovem na puberdade, não resta dúvida que seria sua finalidade vital, sua missão, mesmo que psicopata. A história se desenrola assim no século 18 e é um tanto romântico o enredo, ainda focado nessa coisa de mito da virgindade e eterna busca pelo segredo da vida e felicidade.
            A fotografia e o figurino do filme são exemplares. Sempre gostei de filmes de época por causa do figurino e daquelas mulheres ricamente trajadas, com cabelo não alisado, e toda uma docilidade que é aspecto arquetípico da feminilidade. Mas Perfume vai além, ele retrata o perfume dessas moças que serão aos poços tendo tirada a sua essência e alma, o seu perfume, por um método que esse aprendiz de perfumista, através de banha de porco. A primeira vítima foi por acidente e a segunda uma prostituta, mas em seguida o Jean procura as virgens, o que na época existia naquela faixa etária. As ruivas são as preferidas, talvez por o autor do livro ou mesmo do filme talvez se lembrar da ética cristã e da mulher da Babilônia do Apocalipse, vestida de púrpura etc. Mas a castidade é a preferência e o assassino apenas busca o odor das moças, não sua porção íntima. Quando jovem cheirava o lixo de certos mercados da França, muito sujos e fétidos, e agora ele encontra essa porção de libido desviada.
            O personagem parece um coitado. Não é de forma nenhuma ameaçador. Com sua sempre escravidão, ele trabalha em lugares onde se produz perfume e lida com flores, e também tem o passatempo de matar as moças e cortar os cabelos e na sua nudez retirar a essência perfumada de seus corpos, cuidadosamente guardada em frascos de vidro, que por fim viram elixires mágicos do amor. O fim do filme revela esse feromônio máximo, esse perfume do acasalamento, existente nos animais de forma eficiente, mas que em humanos não passa do cheiro que procuramos evitar.
            O próprio diretor em entrevista nos extras fala que o protagonista mostra muito da máscara por trás do personagem, algo instintivo que até na atualidade seduz em relação aos famosos. E interessantes são os ângulos de câmara e locações em ruas muito bem estilizadas para ambientar a falta de higiene da Europa do século XVIII e a nudez das pessoas foi algo bem sutil e filmado para ser impactante mais em sentido artístico, o que agrada e não abusa. Vejo que o centro da história talvez seja o poder atrativo e invisível das coisas, e mesmo o feromônio que atrai a sensualidade nas pessoas e a ética cristã, uma vez que o assassino perfumista seduz e conquista todos no final, inclusive a Igreja, o que nos faz pensar no sempre lembrado Lúcifer, apesar de não fazer a fita essa ligação. Mas guardar a felicidade em um frasco de vidro, o prazer e a satisfação é um sonho dos magos: é o elixir. Várias receitas mirabolantes existem e aqui não nos cabe falar, mas o filme me pareceu mais a produção dessa feitiçaria que de algum mero perfume. Por fim é a porção instintiva, do sistema límbico e animal, que em outros estaria dormente, mas que em Jean é poder paranormal, usado ainda por seu gênio psicopata. Um filme muito bom, talvez um dos melhores no estilo. Vale à pena locar e refletir com suas lições. E o ritmo é amoral e surpreendente no rumo que caminha a história. A arte da multidão no final e sua nudez me pareceram uma tela renascentista do Juízo Final, muito interessante.     



Comentários

  1. É complicado fazer um filme sobre perfumes porque, com exceção do frasco, o perfume é algo que a gente não vê. Mas gostei do tema e penso que ele realmente é muito interessante. Na Summa um dos temas é sobre perfumes, pois também entendo que estas essências possuem um poder quase mágico. Os perfumes são o retrato da sabedoria milenar oriental e no livro de Cântico dos Cânticos encontramos menção a esta especiaria. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

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